Por que certas situações desencadeiam emoções tão intensas? Complexos Psicológicos: Você consegue identificar os seus?

Por Giselle Cupertino – Julho de 2024

Neste artigo você verá:

  • 1. O Conceito de Complexos na Psicologia Junguiana;
  • 2. Alguns exemplos práticos de Complexos;
  • 3. Quando saber que um complexo foi ativado;
  • 4. A relação dos Gatilhos e a ativação de Complexos;
  • 5. E como lidar com os complexos?
  1. O Conceito de Complexos na Psicologia Junguiana

Na psicologia junguiana, os complexos são definidos como conjuntos de pensamentos, sentimentos, memórias e percepções que se organizam em torno de um tema central. Esses complexos são formados a partir de experiências emocionais intensas que são reprimidas ou não totalmente integradas na consciência e ficam armazenadas no inconsciente. Eles podem ser positivos ou negativos e influenciam profundamente o comportamento e a percepção da realidade. Embora muitos complexos se originem na infância, eles não estão restritos a essa fase da vida. Experiências significativas e traumáticas em qualquer momento da vida podem dar origem a novos complexos. 

Carl Gustav Jung acreditava que os complexos tinham uma energia própria e podiam atuar de maneira autônoma, às vezes tomando o controle da consciência e influenciando nossas ações e reações de forma involuntária. Essa autonomia dos complexos é o que frequentemente leva a comportamentos inexplicáveis e emoções intensas.

2. Alguns exemplos práticos de Complexos:

Complexo de Inferioridade: Uma pessoa pode desenvolver um complexo de inferioridade se, na infância, se sentiu constantemente criticada ou comparada negativamente com outras. Esse complexo pode se manifestar na vida adulta como uma baixa autoestima, sensibilidade extrema à crítica e um sentimento constante de inadequação.

Complexo de Superioridade: O oposto do complexo de inferioridade, este complexo pode surgir quando alguém se percebe excessivamente elogiado ou tratado como especial na infância. Na vida adulta, essa pessoa pode exibir comportamentos arrogantes, desdém pelos outros e uma necessidade constante de reafirmar sua superioridade.

Complexo de Rejeição: Desenvolve-se a partir de experiências passadas de rejeição ou de um sentimento generalizado de não ser aceito ou valorizado. Pode manifestar no medo de intimidade, evitar relacionamentos próximos para não correr o risco de rejeição. Alguém que foi rejeitado por amigos na infância pode ter dificuldade em formar novos laços na vida adulta, temendo ser excluído novamente.

Complexo de Abandono: Pode se desenvolver quando uma criança experimenta a perda ou ausência de uma figura parental importante. Na vida adulta, isso pode se traduzir em medo intenso de ser deixado, relacionamentos codependentes ou a tendência de evitar intimidade para não correr o risco de ser abandonado novamente.

Complexo de Culpa: Pode surgir em uma criança que foi frequentemente responsabilizada por problemas familiares ou punida excessivamente. A pessoa pode carregar um sentimento persistente de culpa, ter dificuldade em se perdoar por erros passados e frequentemente assumir responsabilidade excessiva por problemas alheios.

Complexo de Perseguição: Desenvolve-se a partir de experiências repetidas de traição ou injustiça na infância. Pode resultar em desconfiança crônica dos outros, sensação de ser constantemente observado ou perseguido, e uma hipervigilância em situações sociais.

Complexo de Salvação: Pode se formar em crianças que sentiram a necessidade de cuidar emocionalmente dos pais ou irmãos. Na vida adulta, isso pode levar à necessidade de “salvar” ou cuidar dos outros, muitas vezes às custas do próprio bem-estar, entrando frequentemente em relacionamentos onde assumem um papel de resgatador.

3. Quando saber que um Complexo foi ativado?

Quando um complexo é ativado, ele pode levar a uma série de reações automáticas e emocionais que parecem fora de proporção com a situação atual. Por exemplo, uma crítica leve no trabalho pode desencadear uma resposta intensa de insegurança e ansiedade, se o complexo de inferioridade estiver envolvido. 

Esses momentos são sinais de que o inconsciente está trazendo à tona conteúdos não resolvidos.Identificar quando um complexo foi ativado pode ser um desafio, pois esses momentos geralmente vêm acompanhados de uma carga emocional intensa e reações automáticas. Alguns sinais comuns incluem:

Reações Emocionais Desproporcionais: Se uma situação provoca uma reação emocional muito mais intensa do que o esperado, é possível que um complexo tenha sido ativado.

Comportamentos Inexplicáveis: Atitudes ou ações que parecem fora do caráter habitual da pessoa podem indicar a influência de um complexo.

Reviver Padrões Passados: Quando alguém se percebe repetindo padrões de comportamento que reconhece como prejudiciais, pode estar sob a influência de um complexo.

4. A Relação dos Gatilhos e a ativação de Complexos

Gatilhos são estímulos que evocam respostas emocionais intensas, muitas vezes trazendo à tona memórias e sentimentos associados a experiências passadas. Esses estímulos podem ser eventos, palavras, situações, pessoas ou até mesmo sensações físicas. Na psicologia junguiana, gatilhos têm um papel crucial na ativação dos complexos.

Os complexos, como conjuntos de emoções, pensamentos e memórias organizados em torno de um tema central, permanecem latentes no inconsciente até serem ativados por um gatilho. Quando um gatilho é encontrado, ele pode evocar as emoções e comportamentos associados ao complexo, muitas vezes de maneira automática e involuntária. Aqui estão algumas maneiras pelas quais os gatilhos ativam os complexos:

Associação Direta: Um gatilho pode estar diretamente associado a uma experiência traumática ou significativa. Por exemplo, alguém que foi criticado severamente por um professor pode ser desencadeado pela crítica de um colega de trabalho, ativando um complexo de inferioridade.

Semelhança Emocional: Às vezes, a semelhança emocional entre o gatilho atual e uma experiência passada é suficiente para ativar um complexo. Um tom de voz, uma expressão facial ou um gesto podem evocar sentimentos reprimidos.

Ambiente e Contexto: Certos ambientes ou contextos podem atuar como gatilhos. Por exemplo, retornar ao local onde um evento traumático ocorreu pode reativar o complexo associado a essa experiência.

Estímulos Sensoriais: Sons, cheiros, imagens ou qualquer outro estímulo sensorial podem servir como gatilhos. O cheiro de um perfume específico pode trazer à tona memórias e emoções associadas a uma pessoa importante do passado.

Exemplos de Ativação de Complexos por Gatilhos:

Complexo de Abandono: Uma pessoa com um complexo de abandono pode ser ativada quando um parceiro sai para uma viagem de negócios, provocando sentimentos intensos de solidão e sensação de desamparo.

Complexo de Culpa: Um comentário inocente sobre responsabilidade pode ativar um complexo de culpa, levando a uma reação emocional desproporcional de remorso e auto-recriminação.

Complexo de Superioridade: Alguém com um complexo de superioridade pode ser desencadeado quando percebem que não estão recebendo a atenção ou reconhecimento que acreditam merecer, resultando em comportamentos arrogantes ou defensivos.

5. E como lidar com os complexos?

Os complexos podem ser obstáculos significativos no caminho da individuação. Eles representam áreas da psique que não foram totalmente integradas e, portanto, podem sabotar nossos esforços para nos tornarmos nosso verdadeiro eu.

Lidar com complexos é sobre a tomada de consciência. Isso envolve trazer à luz os padrões inconscientes que moldam nossas reações e comportamentos. 

Para enfraquecer a influência de um complexo, é necessário engajar-se em práticas que promovam a conscientização e a integração dos elementos inconscientes associados ao complexo. Aqui estão algumas estratégias eficazes:

Conscientização e Reflexão: A conscientização é o primeiro passo para enfraquecer um complexo. Reconhecer quando um complexo está ativo e refletir sobre as emoções e comportamentos que ele desencadeia pode ajudar a diminuir sua força. Isso envolve auto-observação cuidadosa e registro de momentos em que você se sente emocionalmente sobrecarregado ou se comporta de maneira atípica.

Psicoterapia: Trabalhar com um psicoterapeuta, especialmente um com treinamento em psicologia junguiana, pode ser extremamente útil. A terapia oferece um espaço seguro para explorar e compreender as raízes do complexo, assim como para desenvolver estratégias para integrá-lo de forma saudável na psique.

Diálogo Interno e Expressão Criativa: Manter um diário ou engajar-se em atividades criativas como escrita, arte ou música pode ajudar a expressar e processar as emoções associadas ao complexo. A criatividade permite uma forma de diálogo interno que pode levar à compreensão e integração dos aspectos inconscientes.

Desidentificação: Uma técnica importante é a desidentificação, que envolve separar a própria identidade do complexo. Em vez de dizer “Eu sou inseguro”, você pode começar a dizer “Eu tenho um complexo de insegurança”. Essa mudança de perspectiva pode reduzir a influência do complexo sobre o seu senso de identidade.

Sobre a autora:

Giselle Cupertino, Psicóloga (CRP: 06/115764). Pós-Graduanda em Psicoterapia Junguiana. Certificada em Psicologia Positiva, Psicossomática, Transtorno Ansioso e Depressivo. Atuo com tratamento psicológico de adultos e adolescentes com queixas de ansiedade, depressão, traumas, transtornos de personalidade, compulsões, conflitos nos relacionamentos, processos de luto e baixa autoestima. Além disso, a proposta do meu trabalho é direcionado ao autoconhecimento para uma vida mais leve e realizada.

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